Detesto o período que medeia entre a ida para os lençóis e a chegada triunfante do sono. Habitualmente, é quando eu páro de fazer, o que quer que seja, e recordo.
E se não é tão mau recordar, de quando em vez, no trânsito, a pé ou durante uma qualquer situação passageira, porque a mente está, de certa forma, ocupada por uma qualquer pressa, e a voragem do quotidiano nos engole o pensamento, já naquele momento, o referido e identificado como o que medeia entre a ida para os lençóis e a chegada triunfante do sono, há toda uma planície temporal para que as recordações se espraiem como lhes aprouver.
Não há esquecer. Há, isso sim, não recordar. Não importa até quando. Tudo volta. Considero o acto de dormir, por convicção, um desperdício de tempo, mas bendito seja se o mesmo servir para não recordar. E quando acordamos, é preciso preencher os espaços vazios (que são, potencialmente, equivalentes ao período anteriormente referido e identificado).
Há recordações que nos tiram o pão à boca e nos matam mais do que os dias.
Verdade! Esse espaço de tempo não deveria existir!