É uma das figuras mais importantes das Festas Nicolinas e uma personagem inesquecível da Guimarães dos séculos XIX e XX.
Quem foi? Deixamos aqui um pouco de história:
A Senhora Aninhas, de nome completo Ana Joaquina de Magalhães Aguiar, nasceu em 14 de Outubro de 1860 e era natural da freguesia de Quinchães, concelho de Fafe.
Segundo Lino Moreira da Silva:
"Veio para Guimarães, ainda com pouca idade (...) e foi desempenhar funções de criada de servir (...). Numa das casas onde a Senhora Aninhas serviu foi no solar dos Condes de Margaride, no Largo do Carmo. Nele tomou os primeiros contactos com os Estudantes que, por altura das Festas Nicolinas, ali tinham reservada Posse de mesa posta, com muito do bom e do melhor, para manter a tradição, adoçar a boca e bastantes deles para compensar privações diárias. (...)
Ela conheceu o noivo em Guimarães, o António André. Tratou-se de um amor à primeira vista, e o namoro não se prolongou por muito tempo. Casaram em 27 de Setembro de 1893.
Acabou por se estabelecer na Rua de Santa Maria, junto ao antigo Liceu de Guimarães (agora Câmara Municipal).
O que prendia os estudantes à loja da Senhora Aninhas era sobretudo a facilidade com que ela se sabia relacionar e o modo como essa sua facilidade tocava a sensibilidade dos estudantes. Desses estudantes, à boa parte que era de longe faltava-lhe as raízes da terra e viam-se sem o acompanhamento da família e o aconchego do lar. A Senhora Aninhas desde cedo compreendeu essa realidade, pelos contactos que tinha com os estudantes, ao que não foram alheias as funções de contínuo que o marido desempenhava no Liceu.
O maior ajuntamento de estudantes à porta da Senhora Aninhas fazia-se no intervalo das aulas. Aí, ficavam a conversar, contar anedotas, fanfarronar, a pregar partidas ou a tocar instrumentos e a cantar, por vezes faltando às aulas. A Senhora Aninhas, a esses, bem lhes dava conselhos: "Meninos, vão-se embora estudar!"
Por isso também às vezes, quando por falta de estudo ou por sarilhos as coisas corriam mal, os mais aflitos iam ter com ela e pediam-lhe que fizesse pedidos aos professores ou até na Guarda Republicana que também a conheciam e respeitavam.
A Senhora Aninhas ajudava ainda os estudantes em muitas tarefas da organização das Festas Nicolinas.
No ano de 1945, durante a ceia do Pinheiro a Senhora Aninhas participou na homenagem que lhe prestaram em vida os nicolinos velhos e também esteve presente no sarau de gala, a 6 de Dezembro (Dia de S. Nicolau) no Teatro Jordão. Nessa altura, os estudantes estenderam solenemente as suas capas pelo chão e chamaram-na ao palco, fazendo-a caminhar sobre elas ...
A Senhora Aninhas viria a falecer a 2 de Agosto de 1948. Escreveu-se na altura, em 6 de Agosto, no Comércio de Guimarães:
" A notícia entristeceu todos os que dela tiveram conhecimento. A Senhora D.Ana de Magalhães, de avançada idade e que há tempos se encontrava em perigo de vida, era muito prestável e conhecida como MÃE DOS ESTUDANTES. Pela sua casa passaram sucessivas gerações académicas que da bondosa finada recebiam conselhos, carinho e agasalho. Desapareceu uma figura popular e estimada."
Esta morte mereceu de Delfim de Guimarães o seguinte soneto, publicado no jornal Notícias de Guimarães de 8 de Agosto de 1948:
O que ela nos sofreu! As nossas travessuras! As dívidas que nunca a malta liquidou! Os desgostos por nós, por nós as amarguras As noites que essa Santa, e dias que passou!
Para a malta fumar faziam-se mil juras, Sem as acreditar o que ela nos fiou! Seus ralhos eram sempre um favo de ternuras E nunca um Estudante a Santa maltratou!
Quando nos via ao lombo a pérfida raposa, Ficava muito triste e, sempre carinhosa, Ralhava-nos com mel, que nos fazia bem ...
De rapaz, muito novo (os anos que lá vão!)
Eu trago o seu retrato, aqui, no coração.
Estudantes. chorai! Morreu a nossa Mãe!
Delfim de Guimarães voltaria, anos mais tarde, a dedicar-lhe novo soneto:
Voou a Alma gentil desta velhada
Ao reino da verdade omnipotente,
E lá, no Assento Etéreo, aconchegada,
A todos nos espera sorridente ...
Minerva, a nossa Deusa tão amada,
Deu-lhe um beijo na fronte docemente ...
Chamou-lhe Mãe Aninhas enlevada
E levou-a a abraçar Gil Vicente.
O Poeta dos Autos, indeciso,
Perguntou a Minerva num sorriso:
Donde são estes olhos tão brilhantes?
- Da tua terra foram ... Lá choraram.
Os seus olhos de Amor iluminaram
Os velhos e os novos estudantes.
Em 1951, a Câmara Municipal de Guimarães atribui à Viela dos Laranjais o nome "Travessa da Senhora Aninhas". Mais tarde, em 1971, foi descerrada uma lápide na casa onde morou, na Rua de Santa Maria, nº. 57, na qual se lê:
Aqui nos abriste o peito;
Aqui te quisemos bem;
Aqui foste, de Estudantes
Conselheira e Santa Mãe.
À Senhora Aninhas Os Antigos Estudantes.
Comments