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Foto do escritorPaulo César Gonçalves

21 DE OUTUBRO DE 1985


Sentia-se a campanha para as terceiras eleições presidenciais (desde o 25 de Abril de '74); Os alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa entravam em greve; O sorteio da Taça de Portugal ditava um Casa Pia - Vitória SC e um Alverca - Benfica (à época, duas equipas nos distritais, contra dois primodivisionários); A RTP1 apresentava "Para onde vai o dinheiro do Povo", uma reportagem de Alípio de Freitas, e a RTP2, ainda em horário reduzido, exibiu "Winterreise", de Klaus Gruber;


"Mad Max III", com Tina Turner no papel de vilã, resistia, desde Julho, nas telas de cinema; "Saving all my love for you", de Whitney Houston, "The Power of Love", de Jennifer Rush, e "Take on me", dos noruegueses A-HA, tomavam conta das rádios;

Gabriel García Márquez anunciava, para Dezembro, a edição de "Amor em tempos de cólera", o seu primeiro romance desde que lhe fora atribuído o Nobel da literatura.

Fica aqui esta pequena compilação de rodapés, com certeza, a algum nível, na sua totalidade, ou não, pormaiores para alguém.

Sem ser notícia, a 21 de Outubro de 1985, há trinta e cinco anos, portanto, o meu Avô António adormeceu para sempre. Pelo menos até hoje. São ideias.

Nascido poucos meses após a proclamação da República (num lugarejo que pouquíssima gente saberia que existia), foi um Homem da Cidade.

Com pouco mais de dez primaveras, começou a fazer pela vida no centro de Guimarães. Quando fundou, já radicado na Costa (Santa Marinha), na década de 50 do século XX, o seu pequeno negócio, na casa que desenhou e construiu (habitação por cima, negócio por baixo), aventurou-se, num terreno anexo (que lhe pertencia), a plantar um limoeiro.

Durante mais ou menos trinta anos, o limoeiro recusou oferecer-lhe limões.

Após a sua morte física, não demorou muito, segundo o que se conta, até que aquele limoeiro, estéril como um penedo, desatasse a exibir limões de todos os feitios.

LIÇÃO A RETIRAR: é preciso semear o futuro.

NOTA: O meu Avô António é, praticamente, uma figura do meu imaginário. Mal o conheci (não me recordo dele, era um projecto de gente), e o que sei foi-me, sobretudo, transmitido. Isso não impediu, minimamente, de me sentir próximo de si. Somos do mesmo lugar. É por essas circunstâncias, mas não só, que o sinto por perto (e que faço questão, sempre).




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