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  • Foto do escritorPaulo César Gonçalves

A LAREIRA DO MUNDO

O Natal no/do Minho começa a 1 de Novembro.


A modesta casa dos meus Avós paternos, em Rendufe, uma Guimarães praticamente Fafe, era dominada por uma Lareira.


Na cozinha, de paredes enegrecidas pela fuligem (por acção do terceiro elemento, a Irmã, Tia para nós, Lareira), o Natal subia-nos pelas narinas e fechava-nos os olhos: Era o fumo emanante da (estaladiça) lenha.


A minha Avó parecia uma continuação daquelas paredes, envergando negro, deixando que as marcadas rugas, como as do granito da casa, lhe desenhassem o rosto parcialmente escondido por um lenço, também escuro.


A noite de lá de fora parecia ter sido convidada para aquela cozinha, toscamente alumiada por uma pálida candeia. Estou em crer que mal o lusco-fusco abandonava o limiar do horizonte, as trevas procuravam frinchas, fissuras ou pequenas fendas na pedra, invadindo, ao de leve, o interior da habitação. Era então que a lareira, ou o lume em si, exibia o seu incontestável trono.


Ali, ou a partir dali, nasciam iguarias de sabor genuíno, e não nos livrávamos do fumo (no fundo o Natal) entranhado na roupa.


As histórias eram cinzentas, ou a sépia, e, por isso, belas (pela sua simplicidade). Os quadros daí resultantes, encorajados pela oralidade própria de um mundo quase puro, emolduravam-nos a mente. Não há nada como o Natal do Minho.




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