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Foto do escritorPaulo César Gonçalves

A ORIGEM DE "ENQUANTO HOUVER MUNDO, HÁ-DE SOAR O GRITO NICOLINO."


Tenho sido 'esmagado' pela realidade de ver e ler estes versos um pouco por todo o lado. Ultrapassa-me a forma como cresceram tanto.


Como tenho percebido que há muita confusão em torno da sua origem, vou dar uma explicação muito rápida (ou, pelo menos, tentar), a partir de algumas questões que se me colocam:


1. Os versos pertencem a um Pregão? Pertencem a um Pregão que não foi lido. Um proposta para pregão, ou, então, um pregão para fins recreativos. Houve anos com 4 pregões, inclusive os caixeiros, os "nemesis" dos estudantes, chegaram a ter um Pregão.


2. Se não foi lido/recitado, para que serviu? Serviu para guardar na gaveta.


3. Quem é que te pediu para escreveres esse Pregão? Francisco da Cunha Oliveira Ribeiro (Xico do Jesualdo), em Março de 2012. Naturalmente, foi ganhando forma.


4. Ficaste desiludido com o facto de não ter sido lido? Na altura, sim, mas a verdade é que nem a Comissão de Festas Nicolinas, que é soberana, mo pediu, nem eu tinha que esperar que fosse lido. Escrever o Pregão é uma tarefa que é encomendada directamente pela Comissão de Festas Nicolinas (e que só a ela diz respeito).


5. Assim sendo, por que razão acedeste ao pedido de outra pessoa? Porque essa pessoa era o Xico. Mais nada.


***** A razão pela qual os versos "enquanto houver mundo, há-de soar o grito nicolino." ganharam a força que ganharam deve-se a uma pessoa: Joana Meneses. Foi ela, e não eu, quem popularizou a expressão.


Para quem quiser/lhe apetecer cansar a vista, deixo aqui o texto completo:


O PRÓLOGO


É prudente avisar, já de começo, Acordo Ortográfico? Não, Obrigado: o Português que merece meu apreço é aquele que me foi (bem) ensinado; Atenção! Nada contra o do Brasil, mas o nosso é, como dizem, “maneiro”; querer mudá-lo é apenas útil a quem os bolsos quer encher com dinheiro.


Marca a hora o “Maria da Fonte”, badala o Sino na Velha Igreja; Olho, Araduca, o teu horizonte, vai principiar a grande peleja: Ao alto o estandarte, 1º Vogal, Segura-o como o Decepado, que, ao perder as mãos, por Portugal, ainda assim o ergueu, embocado.


A CARTA DE INTENÇÕES


Ó gente da Terra Vimarana, escuta agora este teu vassalo, que irá berrar, com toda a gana, assunto de poder levar ao estalo; Não serei (Oh não) lá muito cortês, a não ser com a delicada Dama; Tudo o que é mau, e Português, ganhará, assim, prometida fama.


Peço a nosso querido Santo medida força e temperança; que ninguém se deixe pelo pranto levar (com tamanha desconfiança); E à Musa da nossa Montanhia clamarei por (superior) Inspiração; Que deste chão se erga já magia para que se ilumine este Pregão.


Guimarães, adorada Cidade, é para Ti que agora canto; toma, se desejares, a liberdade, de te cobrires com nosso manto; Idos Pregoeiros de Nicolau, vinde, uma vez mais, escutar o Texto, ora bom, basta vez mau, que irei, o melhor que souber, declamar.


A DEDICATÓRIA


Filhos de São Mamede (Columbina ou Leobriga), oiçam aí, na ameia: tem esta Terra Vitória na Sina; Vergar? Nem Napoleão, nem a Patuleia! Almeida, Caldas, Silva, Delfim e Falcão Roriz, Meira, Costa, Simões e Graça: dedico este Apregoado Sermão aos que, pelos tempos, o deram à praça.


A CELEBRAÇÃO


Um ano, tão rápido, se há passado; diz lá, Vimarano, com sinceridade: tinha já a saudade assolado a muralha da Fundadora Cidade; Das novas do Escolástico Bando creio sentida genuína falta, e, uma vez mais, não serei brando, mais uma vez, agitarei a malta.


Terra de Grande e Valente Gente, onde Um só vale por um cento; Berço de Afonso e de Vicente, do Abade, de Dâmaso, de Sarmento; Do Molarinho e do Engenhoso, dos Sampaios e também do Galvão; Teu Passado sabe-se Venturoso, O Presente floresce-te na mão.


Uma leve música veio sussurrar, agora mesmo, ao meu ouvido; Terão os Guises voltado para tocar na ínclita terra onde hão nascido? Abre-se a Porta ao Turista, que, em catadupa, aparece: não vem só conhecer o artista; Guimarães, de beleza, não carece.


Cucusio, toma bem este conselho, só o proferirei uma única vez: exercita, só em frente ao espelho, a tua tendência para a nudez; Que pensará o bom do estrangeiro se com tal visão for confrontado? Antes de o mostrares, pensa primeiro: - será que o cu tenho bem lavado?


O REPARO


Senhor Chefe do Município, permita-me um pouco de ousadia, prometo-lhe, só por princípio, não pretendo tomar-lhe o dia: tanta Obra, quanta inauguração, perdoe-me, mas, não acha ser demais? Terão todas alguma ocupação, ou serão apenas poiso para pardais?


Não quero, por favor, que leve a mal, a minha ignorância não confunda com insulto ou coisa outra banal, não me apraz qualquer barafunda; O trânsito, isso sim, aborrece, para não dizer que chega a irritar: penso no centro e logo arrefece a vontade de no carro pegar.


A SAUDADE


A nosso Cátedro edifício chegou também a crua modernice: da nova era é estranho vício que dá, não raras vezes, em parvoíce; Tenha esta casa, que o Fogo guarda, a Zeus roubado por Prometeu, esse Tudo, achado no Nada: a Sempre Viv’Alma do Velho Liceu.


O AVISO


Os anos passam e não há fruto; quem escutará, de vez, nosso clamor? Quando aprovarão o estatuto, acha que ainda demora, Director? Faltamos à aula, é verdade, mas em defesa da Suprema Tradição; deixe-nos recuperar, mas mais tarde, que agora é tempo de perdição.


Ó casquilho, ou ginja, ou taful...caixeirinho: já reparaste no que voltou ao Toural? À memória traz-te o mergulhinho, que, de tão dado, se fez habitual? Cuidado, ó manhoso futrica, não venhas à nossa festa fiado, ou acabarás metido na bica: o teu fado é andar molhado.


O ÓPIO


Ora desgostoso, ora colérico, assim vai oscilando meu humor; Ó Deuses do aclamado esférico, porque conspiram contra nosso Amor? Como parava nossa cidade; como se espalhava tamanha chama; como me invade a Saudade dos “tiros” do Mendes e do N’Kama.


Só o Eterno guardião da Baliza pode deter remate trapaceiro; o grande clube dele precisa como no símbolo do Rei Primeiro; Valer-lhe, Ó Jesus, será que podes (Nem o filho de Deus, nem o da Luz)? Por lá anda um outro “Herodes” que ao Afonso quer meter o capuz.


Que fazes, Milo, a nosso coração? O que nos queres cravar no Peito? Não queiras arrastar-nos na lama do chão ou há-de a lama servir-te de leito; Ergue-te, Amado Vitória, “Vai em frente e atrás não fiques, tens no teu emblema a Glória e a espada de Afonso Henriques.”


A INFÂMIA


O medo e a mentira, de mão dada, no escuro atacaram, ao de leve; fazem-no agora à descarada, a hora do saque já não vai breve; Eterno Rei da Terra Portuguesa, quanta volta deste já na tumba tua: a teu Povo roubam o que há na mesa quererão pô-lo a viver de rua?


De início, ocorreu-me a questão: - terá o Lombela ao Mundo voltado, trazendo o Papa-Açúcar pela mão? Longe não estava de tal cozinhado; A Bicho entregue? Bicho não ordena, outra “espécie” é, paranóica , aos teus, Rei, sentencia, como pena, alimentar a farta gula da Troika.


E em Belém está o pobrezinho, diz suas contas não conseguir pagar; é parca a reforma, coitadinho, não sabe como fazê-la esticar; alegórica, triste figura, impávida assiste ao desvario, como resiste o Povo à secura de quem fomenta o compadrio?


E o ‘parente’ do velho Geppetto? Estuda, contaram-me, na bela Paris, mas na arte de “enfiar o espeto” parece cá ter deixado aprendiz: fala sim, mas dele não é a voz; pensa, mas ele não é a pensar; sabeis como digo (só cá entre nós)? Ó Relvas, malandro, vais mas é estudar!


Declara o ministro financeiro ao País querer com trabalho pagar a soma investida, em dinheiro, que Portugal gastou para o educar; Mas, tão “douta educação”, onde estará? Só tem (claro) capital na mira; trabalho algum pagar conseguirá quando ao Povo o trabalho se tira.


Segue na Lusa Terra a “pilhagem” e pilhado, claro, é o do costume, mas já se sente o cheiro na aragem de quem vai cozer em brando lume; E o Mundo, por seu Todo, se sacode com tanta e tão variada Manif; é o Povo, irado, que não mais pode com o farto roubo de tanto patife.


(É grande, de facto, a chatice, mas encontra-se ainda por inventar forma que permita a espertice de, de submarino, poder-se ir “feirar”;)


Perigosa gente de dupla cara, necessita, urgente, de terapeuta; sofre de enfermidade não rara, curar-se-á com o Pau de Ceuta? O Aléu mostra-lhe, ó Meneses, não ameaces, fá-lo mesmo estalar, naquelas costas, quantas mil vezes, até a maldita se conseguir curar.


O ENCANTO


Cesso agora o relato imundo, volto ao prometido tom de altivez, a isso obriga o assunto, profundo, regra de cavalheiro que se diz cortês; Nesta tropa tua, Distinto Nicolau, Magriço e os Doze queremos lembrar: Por terra, por Mar, à montada e de Nau, a Dama Inglesa foram honrar.


Ó Senhoras, donas de encantos mil, desta urbe o mais belo tesouro: sois Beleza, não capricho fútil, Flores do ancião sítio do Touro; Que mais podem nossos olhos pedir do que vossa excelsa presença? Sois razão do nosso sincero sorrir, que, de tão puro, não guarda ofensa.


Amanhã será um novo dia, quero ver-vos por toda a varanda, e, quando da lança acharem o guia, logo perceberão sua demanda; eeal e muito forte é o desejo de um beijo vos poder reclamar; se ousado credes tal ensejo, restar-me-á vossa vontade respeitar.


(DE NOVO) A SAUDADE


Deste improvisado cantante surge agora lembrança do Coração: Ela foi, para o pobre Estudante, a Isabel que não a de Aragão; Ó Doce Aninhas, Eterna Madrinha, de Rei algum amada consorte: da nossa Causa, serás sempre Rainha, em nosso Peito jamais terás morte.


O ANÚNCIO DO FIM


Já ouço a trombeta Nicolina em fundo, é sinal é de retirada; por ora vou-me, Estudantina, espera-me já a maçã lançada; Esta rouca voz de ti se despede, outra há-de, para o ano, cá voltar, Estremece, Muralha de Mamede, a vera batida vai principiar;


A APOTEOSE


Lança a baqueta, sacode a pele, nem sequer de ti tenhas piedade; é esse, recorda sempre, o papel, de quem no peito traz esta cidade; Quero sentir trovoada tamanha capaz de abanar o Olímpico Monte; estarás disposto a tal façanha, ou queres lavar já o sangue na fonte?


Põe tua Alma em cada investida, mostra tua cepa e do que é feita; és de Guimarães, a terra escolhida, tal honra supera qualquer maleita; Faça-se já barulho furibundo, Ó Zirrante, repica teu sino; que o saibam todos: Enquanto houver Mundo, Há-de soar o Grito Nicolino.




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