Já escrevi várias vezes que não sou negacionista, não sou teórico da conspiração, não sou de extrema-direita nem sou anti-vacinas, mas as pessoas gostam de zurzir em quem não alinha cegamente no discurso vigente e, portanto, não vale a pena grandes justificações. Quero lá saber.
Andava há dias para escrever este texto, mas, por esta ou aquela razão, não o fiz. Depois de saber sobre a medida do recolher obrigatório ao fim-de-semana, não aguentei mais.
Somos governados, nas altas esferas centrais, por uma cambada de ignorantes, hipocondríacos, analfabetos funcionais e conformados. O nosso espelho (porque eu não acredito que os políticos sejam melhores nem piores do que o restante da sociedade).
A estes, junta-se um dirigismo médico absolutamente nojento, obsoleto e afogado na saliva dos egos e uma comunicação social rasteira e vendida. A esta última, quero dedicar toda a minha repulsa e revolta: venderam o vírus como um aniquilador em massa, assustando a população, incentivando-a à bufagem.
Os conteúdos televisivos/serviços noticiosos em nada diferirão, creio, dos de uma ditadura, e o paternalismo à Guedes de Carvalho virou sebenta. Um gajo que ganha milhares de euros a mandar gente ficar no sofá (porque aos avós destes pediram-lhes, disse ele, para irem para a guerra: foi mais obrigar).
Há, também, uma enorme discrepância entre quem trabalha na função pública e os outros.
Ninguém, seja quem for, tem o direito nem deve ter o poder de obrigar pessoas que precisam de trabalhar para viverem com dignidade e alimentarem os seus filhos a ficar em casa. Ninguém. Ninguém tem o direito de, à boleia de um conceito de moralidade retorcido, tratar como assassino alguém que apanhou o vírus e que, sem o poder evitar ou saber, o passou a outra pessoa. Isso aconteceu sempre. Há dias, um senhor suicidou-se porque o convenceram de que tinha sido ele a causar a morte a um outro senhor de 90 anos. Intolerável.
O pequeno/médio e os negócios de rua vão ser arrasados. Gente que se esforça por ter uma porta aberta e que financia o Estado Social (e que é tratada pelas finanças como potenciais prevaricadores, sempre). Quem é que o vai pagar, depois?
Dá a impressão que para salvar o SNS se destrói tudo o resto. Mas não é/era função de quem está no poder suprir, todos os anos, o SNS com tudo o que é necessário para o seu bom funcionamento? É isso que acontece? Não há colapso, todos os anos, por esta altura? O COVID tem as costas muito largas (e serve de desculpa perfeita), assim como a população (a quem o governo passou a responsabilidade da gestão da pandemia: se correr bem, é obra do governo; se correr mal, o que é mais certo, é culpa dos cidadãos).
A actividade médica cancelada ou adiada desde Março foi exponencial. Chegamos a Outubro/Novembro, depois de um Verão relativamente calmo, e nada foi feito, novamente. Há falta de camas e de pessoal. O que andaram a fazer durante este tempo? Houve um Professor de uma escola médica que disse, numa entrevista, que naquele primeiro período da pandemia, grande parte dos médicos esteve de férias (porque a isso foram obrigados). Nunca mais ninguém ouviu falar dele. Aliás, só aparecem os da linha catastrofista (e anda agora um carona, à boleia do situacionismo, em busca de notoriedade, tal como outros).
Quem não morrer de/com covid está condenado a perecer com as outras doenças todas (que não dão nem nunca deram tréguas), ou de fome, ou de desespero (suicídio?). As doenças do foro mental vão disparar e os casos de violência atingirão picos nunca vistos.
O excesso de mortalidade por outras causas não pode ser varrido para debaixo do tapete.
O vírus, como qualquer outro, é imparável e fará o seu caminho, independentemente de tudo. É preciso aprender a viver com ele, como se aprendeu a viver com a gripe. Cem anos depois, a influenza ainda mata, apesar da vacina. Metam isso na cabeça.
A população activa tem de poder continuar a sua vida (há famílias para alimentar) e, claro, é necessário proteger os mais vulneráveis/grupos de risco (como sempre, porque o frio e as infecções matam muita gente, todos os anos).
Seria interessante apresentar números de anos anteriores para vítimas de problemas do foro respiratório e compará-los com o deste ano. Já alguém viu dados do género?
Portanto, proteger os mais vulneráveis, distanciamento físico (e não social) e regras de higiene. Pessoalmente, as máscaras parecem-me inócuas (e aviso já que dispenso comentários de especialistas tipo aquele que se dirigiu ao Ronaldo com um "bem-vindo, colega". Poupem-me ao aborrecimento).
O vírus não pode dominar, pelo medo, as nossas vidas. Nem o vírus, nem a polícia a reboque dele, com ameaças ignorantes de toda a espécie, potenciadas por quem legisla.
Há toda uma narrativa incongruente, falaciosa, pouco científica (ou, pelo menos, de via única), que tem baralhado e revoltado os cidadãos. Perde-se tempo com rastreios supérfluos e inconsequentes, em vez de reforçar o que precisou sempre de reforço.
Estamos a baixar a bitola e as expectativas para as gerações que se seguem.
Estamos a abdicar de conquistas essenciais. Estamos a cavar um fosso irremediável.
Estamos a testemunhar o colapso da nossa sociedade. E colaboramos.
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