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Foto do escritorPaulo César Gonçalves

ALL HALLOWS EVE

Atualizado: 1 de nov. de 2020

"Ensaiávamos, de forma tosca, umas abóboras surripiadas aos campos dos lavradores, acrescentando-lhes velas. E pouco mais."


O ESPECTRO DO CARVALHAL


Era fim de tarde do dia 31 de Outubro, na terra de Santa Marinha. Escondido por um imenso arvoredo, ali a meio caminho do alto da Penha, o casarão do Carvalhal parecia resgatado a uma novela de Poe. Histórias de sombras e de espectros envolviam-lhe as paredes, ásperas e grossas, de granito.


A casa, cujo imponente portão fazia antever t(r)emores, cheirava a abandono. Imaginavam-se sussurros e lamentos, emergindo do interior do chão em madeira. E o ranger das divisões era acompanhado pelo bater dos dentes daqueles que se aventuraram dentro dos seus limites.


Logo à entrada, uma fonte/poço de assinalável dimensões, ricamente ornamentada com motivos alquímicos esculpidos na pedra.


- Deve ser esta a bica., deixa escapar, timidamente, um dos rapazes, lembrando aos outros quatro a vez em que uma velhota de Espariz lhes havia falado da "bica encantada do Carvalhal".


Segundo a Senhora, proferindo determinada frase junto à nascente de água faria emergir uma figura metade mulher, metade touro. As palavras correctas já ninguém as sabia. Desconfia-se que ninguém as quereria proferir, na verdade.


Entrados no edifício propriamente dito, assim muito a medo, são confrontados com uma gargalhada infernal, vinda das profundezas da casa. O resultado é instantâneo: Precipitam-se em direcção à porta que lhes havia franqueado a passagem, mas, com o terror da situação, as pernas não respondem ao estímulo do cérebro.


Ensopados pelo calafrio e pelo suor, puderam ver, para descrédito dos seus próprios olhos, uma figura ululante. A mesma, pálida, de um translúcido inexplicável, pairava sobre eles, a dois palmos das suas cabeças.


Os rapazes emudeceram.


O penante, sem dúvida um homem, pelo aspecto das barbas e da roupa de dormir remendada, ignorava-lhes a presença. Tão depressa surgiu como desapareceu por uma das muitas portas que por ali se abriam.


Atrás de si, suspensa, como que movida por mãos invisíveis, uma espingarda, seguindo-lhe o intento.


Uma vez passada a quase-delirante situação, e já parcialmente refeitos do choque, os cinco correram dali para fora, sem olharem para trás.


Nunca mais. Nunca mais.




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