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  • Foto do escritorPaulo César Gonçalves

O REENCONTRO


- Ó charmoso...

- Esta voz...Zé Carlos?

- Estou aqui. - Estica os ossos, anda cá. - Quais ossos? Isso ficou lá para baixo. - Ó Zé Carlos, és mesmo tu? - Se calhar não. Não é suposto eu acreditar nisto. - Nisto? - No pós-morte. - Mas estamos aqui a falar. Deixa lá isso, agora. Que confusão. - Também andei assim. Há muita gente que te quer rever. - Há? - Ui, nem tens ideia. Olha lá, e o funeral que me deram? - Que raio de conversa...vamos agora falar do teu funeral? - Veio-me à memória. Eu estava lá sentado, no muro, a ver toda a gente. A minha premonição estava certa. - O meu parece que é amanhã. - Não há-de ser maior que o meu, charmoso. - Oh. E o que se faz por aqui? - Não é muito diferente. Mas não se come nem se bebe. Continuo bem cheiinho, apesar disso. - Estás igual. E olha, escreve-se, por cá? - Claro! Queres ver o que ando a fazer? - Desde 1984? - Nem dei pelo tempo a passar. Nem sei se aqui há tempo. - Mostra lá o que escreveste. - De alguns eu gosto, de outros nem por isso. Ainda vai tudo para o cesto do lixo. - Ainda com essa mania? - Ainda...mas aqui não há caixotes. E falas-me, enquanto, nos meninos e na Judite, pode ser? - Temos tanto para falar. - E cantar, queres?




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