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  • Foto do escritorPaulo César Gonçalves

UM DISCO É UM LIVRO QUE SE ESCUTA


01 de Março de 1973:


recorrendo ao que acho que sei (que pode não corresponder, inteiramente, à verdade), o meu Pai vivia, novamente, em Paris, depois de três anos na 'bonita', porque imposta (as pessoas, porque dá-lhes para isso, ainda valorizam essas coisas), guerra colonial. A minha Mãe ainda não tinha largado a ideia de fazer carreira no intrincado ramo do noviciado.

Por essa altura, provavelmente, ou não, eu animaria outro corpo (sou dado à possibilidade da reencarnação, mais do que a outra qualquer, mas, ainda assim, sempre com cepticismo).


Em Inglaterra, os Pink Floyd editavam "The Dark Side of The Moon".


Vinte e tal anos depois, o meu Pai vive em Guimarães, ali para os lados de São Torcato. A minha Mãe, que colocara de parte a ideia eclesiástica, acompanha-o. Eu não. Eu moro na Costa (Santa Marinha da), em casa da minha Avó (o mais próximo que conheci de uma estrela Rock), não por qualquer tipo de zanga, apenas por questões escolásticas.

Estamos a meio dos anos 90. A internet era fenómeno raríssimo. Ainda se escutavam cassetes e cd's (acho que cheguei a ter walkman e discman, mas também é possível que os mesmos fossem da minha irmã, ou seja, estavam contaminados por horas de música deplorável).


Um moço de Ronfe, bem mais velho (naquele tempo, convivíamos com gente que gostava de passar muitos anos no Liceu: recordo-me do caso de um rapazola de quem se dizia que por lá andou durante doze temporadas, fazendo dois 7º's, dois 8º's, dois 9º's, dois 10º's, dois 11º's e dois 12º's, num claro amadurecimento de conteúdo), o Nuno (rapaz alto e magro, desengonçado, guedelhas pelo pescoço, com a mania que era bonito e essas coisas), creio, falou-me do "Dark Side of The Moon", dos Pink Floyd.


Era uma fase complicada, a do 8º/9º ano, à procura de perceber o que andava para aqui a fazer (na verdade, essa ideia já me assaltava desde há muito tempo).


E lá fui eu, para a Biblioteca Municipal Raul Brandão, procurar o disco. Foi lá que vi o primeiro filme que me marcou verdadeiramente ("Platoon, os Bravos do Pelotão") e também foi lá que assisti a um vídeo (em cassete, note-se) do Maradona em Nápoles, o mais próximo que estive de acreditar num deus. Bendita instituição, a BMRB.


Pronto, eu ouvi o disco. Eis-me, passado todo esse tempo, a recordá-lo.


Obrigado ao Nuno (que, depois do 9º ano, nunca mais vi). Espero que não tenha falecido, e que tenha uma boa vida (porque uma pessoa que faz uma recomendação assim merece ter uma boa vida).



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