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Foto do escritorPaulo César Gonçalves

CARTA AO MENINO JESUS


Dezembro de 1962,


Menino Jesus, é a primeira vez que te escrevo uma carta. Falaram-me no Pai Natal, mas o Pai não me deixou escrever-lhe. Eu percebo. Não é justo escrever a duas pessoas para me darem presentes quando há outras meninas que nem têm nenhum, de ninguém.


Eu gostei dos casacos quentinhos que me trouxeste nos outros anos, e é bem provável que me tragas mais um neste Natal. Eu ficarei contente, mas olha, eu tenho pensado muito. Por que razão não compras um casaco para ti? Estás sempre ao frio, no presépio. Não sei se andas sempre assim, mas depois ficas constipado. E tenho outra pergunta. Quem é que te oferece presentes? Tu dás a toda a gente. Alguém tem de tos dar, também. A Mãe falou-me duns reis magos, mas ainda não entendi muito bem.

Se quiseres, podes ficar com o meu. Às vezes, a Mãe diz que eu tenho pensamentos de gente crescida. Gostava de te contar um. Eu não quero que toda a gente tenha casacos. Eu quero é que toda a gente possa ter casacos. Disse isto em casa e a Mãe deu-me um abraço.

Esta carta foi corrigida pela minha Professora. Ela não riscou muito, que eu vi.

Obrigado, Menino Jesus. Se não te importares, para o ano escrevo ao Pai Natal.

Maria Ana



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